segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Estranhamento

Estranho momento
Solidão acompanhada
Solidão celebrada
Solidão feliz
Entediada de ser infeliz
Mais ainda
Cansada de ser ditosa.
Mente
Mente quem diz
Que tudo anda bem
Como assim o é.
O destino.
Que destinação é essa?
Ter que celebrar a sorte,
Ter que chorar as mortes
Diárias, costumazes
Que assolam meu coração.
Devo ser forte.
Maior que a morte
Ser doce
Se amarga
Ser delicada
Se ofendida
Pelo destino - ação.
Desprezada
Até pela morte
Odiosa desafeta
Que sorrindo
Me disse:
- 'Adeus.
Quero ser solidão.
Não te quero junto a mim'.
O jeito é viver
E ser feliz
Sorrir
Sem motivos nem razão
E com todas as razões.
Regozijar-me
Do pão nosso de cada dia.
Estranha vida
Estranhos
Todos os sim
Todos os não.
Será que dormindo
Esse estranhamento de mim
Desfaz-se no infinito inconsciente?
 Que assim seja.
Amém.

Maria Izabel Viégas
 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Quem poderá nos salvar?


"O amor é a ponte entre você e tudo mais."
Rumi

Ando perplexa. 
Perambulo neste mundo caótico.
Com as atitudes dos homens que governam o mundo.
Uma rede de mentiras e um país sem rumo. 
E decepcionada com os homens de todos os povos do mundo.
O de cima é semelhante ao de baixo.
Se mudarmos a posição hierárquica 
entre poderosos e subordinados,
todos, em essência, são idênticos.
Quem me salvará desta triste apatia. 
Melancolia, após uma vida inteira de ética e árduo trabalho?
Não será a crença na justiça 
que é cega e injusta.
Nem em nenhuma religião 
Que só anestesia. 
E, na maioria das vezes, 
aliena, ao nos prometer 
a justiça no "outro mundo"; 
a consoladora fé no "depois da morte". 
Sempre atônita
recorro a única pessoa 
que tem o poder de me consolar: 
eu mesma!
E o que posso fazer por mim e pelos outros?
Para não desperdiçar o carrossel dossonhos já realizados 
e comprometer os ainda acesos? 
Ouço a voz do meu coração 
que, em diálogo constante 
com a sensata razão, 
repete a voz de Rumi:

"O amor é a ponte entre você e tudo mais"



Maria Izabel Viégas

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Nunca não existe?



Nunca seremos totalmente felizes.
Nunca seremos totalmente sofredores.
Nunca não existe.
Totalmente é exagero.
Meio a meio não é medida
de bem-aventuranças
nem de infortúnios.

Quem mais sofreu na vida
é,  talvez, aquele que mais sabe consolar, curar e dar as mãos aos aflitos do mundo.

Quantos de nós aqui
estamos transbordantes
em ternura nos nossos mais conflituosos e incertos momentos de desventura?

Tua dor é grande?
Grande será tua força.
Guarde-a contigo.
Ela se transformará.
Pois se ela é tua.
Só tu podes
Libertá - la do teu jugo.
Salvá-la desse azedume.
Será que a dor não se  cansa de tanto que o homem a retém
Fugindo das causas, da redenção e da cura?

O que é de Deus a Ele pertence.
O que é do homem a ele pertence.
Só a este pertencerá o tempo do quanto carregará e do tempo que será aprisionado por seus temores.

Maria Izabel Viégas


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Esse teu olhar




"eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura 
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha"

Paulo Leminski


Eu queria tanto
olhar
nos teus olhos 
bem agora
saber se estás
aqui 
dentro de mim
ou estás fora.
 queria tanto
tanto
tanto
tanto
dizer:
te adoro.
és o  poema em mim! 

Maria Izabel Viégas

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Devolva-me a fé, a força e a coragem


"Com força e com vontade
A felicidade há de se espalhar...
Há de mudar os homens
Antes que a chama apague
Antes que a fé se acabe
Antes que seja tarde."

(Ivan Lins)







Mas , meu sinhô, não tenho mais forças.
Tenho fome de alimento e sede de justiça.
Ando, pés feridos, indigente descalço
 transitando nas multidões.



Adoeci, não por moléstia grave.
Fui mortalmente ferido 
quando perdi meu orgulho.
Usurparam meu trabalho.


Mas,  meu Sinhô,
minha chama se apagou 
Nesse oceano de corrupção.
Sou fantasma de mim.
Só desalento.


Mas, meu Sinhô,
roubaram minha fé,
Os homens a prenderam 
no cativeiro de minh'alma.

Mas, meu Sinhô,
Houve um tempo 
Lá no pretérito,
Como honrado guerreiro vivi,
Fui vítima num outro tempo,
Por fúria, tornei-me algoz.

E juro, meu Sinhô,
Ninguém notou que eu era 
gente.
Nasci tantas vezes
Quantas morri.
Sem que nenhum humano qualquer
Um olhar a mim dedicasse.
Sempre transparente, desbotado, invisível.

Vivi nas primeiras Eras.
No início dos tempos.
Atravessei gerações.
E nada mudou
Nem a humanidade fez-se humana.

Onde a chama?
Onde a coragem?
Onde a força?
Onde a vontade?
Onde o cantar dessa felicidade?

Por Deus, meu Sinhô,
e eu preciso tanto
de ver renascer em mim
A chama da fé pura.

Antes que seja tarde.
Estou tão cansado.

Por Deus, meu Sinhô!
Divide com esse povo sofrido
Essa sua felicidade falácia,
Pois esta e a única que se conhece por estas terras.

Uma felicidade
que por direito divino
Pertence a todos
os trabalhadores escravos
desse moderno mundo!

"Há de criar sementes
Há de fazer alarde"
Só se todos juntos
Unirem suas forças
Com muita força e férrea vontade.
Que assim seja,
Antes que seja tarde.

Maria Izabel Viégas

domingo, 22 de outubro de 2017

Duas palmeiras e solidão do homem sem amizades

"Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto."
Francis Bacon
Duas espécies de palmeiras.Moram lado a lado.São vizinhas.Duas espécies de humanos.Moram lado a lado.São vizinhos.Serão amigos? ... família? ... parentes? Estão assim juntos Fincados no mesmo solo, no mesmo lar, na mesma igreja, na mesma cidade, Povo?Humanidade?Conjecturo,  apenas Observador, alheio aos seus motivos.Há uma solidão intrigante neste mundo socializado.Há conflitos constantes por opiniões contrárias. Há conflitos analfabetos entre pessoas que expressam a mesma opinião. E se ofendem .E divergem usando o mesmo argumento.Acontece nas redes sociais.Acontece aqui do lado de fora da tela.No mundo dito realQue cada vez mais é virtual.Casais sentados numa  mesa conversando pelo celular na rede social em que são amigos. E ali, casados na vida real, param para tecer comentários sobre algo comumali publicado.Dão um like recíproco.Comem rapidamente e distraidamente.Qual a refeição?Não lembram.Interessante o mundo hoje.Moramos com nosso marido. E fazemos declarações de amor.Nas redes sociais.Ou seja: precisamos mostrar ao mundo o quanto nos amamos.Ao vivo?Não basta!Quantas corações ou likes receberemos?[Viu, amor?Somos realmente aceitos e amados por "todo"o mundo!Até da Islândia recebemos flores(imagens virtuais)!Somos a imagem da felicidade!Nossa!Esquecemos de pagar a conta de luz. Também,  não tivemos tempo, não é? Mas a culpa foi suaQue não me lembrou.Minha?Ora, fica o tempo todo no face e a culpa é minha?E brigam.] Será socialização ou deserto?Difícil vida dos humanos!
Volto a ser o Observador dessas duas palmeiras:O coqueiro que oferta águas doces e polpas divinas.Abriga ninhos de passarinhos.Faz amizades facilmente.É generoso.Dadivoso  durante todo o ano.Acolhe quem dele se aproxima.A palmeira mora no quintal vizinhoVeio do deserto.Demora a frutificar.Tem espinhos fortes e enormes. Afasta pessoas e passarinhosOs donos , os mesmos que a plantaram, a odeiam.Mas não conseguem quem a corte , custa uma fortuna ,Mesmo pagando ninguém dela se aproxima.A soberba do "preciosa palmeira" do deserto desaparece , o amor acabou.Foi somente a imagem de uma realidade que não existiu. Os donos do coqueiro simples e belo são por ele apaixonados.Temem que um dia ele morra.    Penso que as duas são virtuais.Talvez se comuniquem.Talvez.Nada sabemos da amizade entre as plantas.Nem resolvemos a questão dos humanos...  O que fazer para que se tornem mais amigas.Bem.O coqueiro tenta.A palmeira é solidão. Fato, percebam: o Observador está sonhando.Talvez tenha viajado ou se perdido na sua história.  Enfim, acerca das amizades, da solidão  e dos desertos. Nem sempre conseguimos verdadeiras amizades pois não sabemos Como é o ser amigo,  generosos e doadores de felicidadeNutrir quem nos rodeia e receber com gentilezaA dádiva da amizade fraterna.Na vida real e virtual.  Maria Izabel Viégas(o Observador que adora likes). .




quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Minha voz


Sim.
Tive que me calar
Tantas vezes.
Por ser menina
Por ser criança
Por não ter poder.
Nunca conseguiram
Podar meus pensamentos.
Estes, insistentes,
Moravam bem escondidos
Na menina frágil.
Frágil,  só por fora.
No cotidiano do dia ou do sonho.
Fortaleceram meu ser.
Minha voz.
Meu livre pensar.
Meu grito de liberdade.
Assumir responsabilidades.
Mas viver é um constante assumir o prazeroso
E o que se impõe nas nossas escolhas.
Os fardos, leves ou pesados,   carreguei.
Cônscia de que tudo que nos acontece
Está escrito nas estrelas.
Vim ao mundo para cumprir um plano traçado no outro lado da vida.
Erros e acertos, naturalmente, sim!
Sofrimentos,  por que não?
Coragem e teimosia,
Andavam lado a lado.
Mas ninguém tirou - me
O poder de escrever minha própria história.
Nada, hoje sei com certeza,
Sufocou o meu 'ancestral e sagrado poder do feminino'.

 Maria Izabel Viégas 

domingo, 15 de outubro de 2017

Melhor ser alegre que ser triste?

"Aquele que
nunca viu a tristeza,
nunca reconhecerá a alegria."

Khalil Gibran

É melhor ser alegre que ser triste, canta o poeta.
Um canto movido pela tristeza
que já assolou seus dias de felicidade, ó  poeta?

Ser feliz é mais.
Difere de ser triste.
Pode o homem ser feliz apesar de todos os sofreres.

A felicidade, vezes, parece um dom
Que nasce para alguns.
Para aqueles privilegiados
Cujos olhos se vestem com a paz da alma
E a força do amor no coração.

Ouvi de um homem:
- Minha alma é triste.
Este homem nunca conseguiu
Acessar os códigos secretos
A força misteriosa de si mesmo.

A alma é superior.
Não mora aqui ao lado.
Aqui neste mundo pesado por tantos ais.

Creio que a alma de todos os homens
Mora no sol, 
nossa sagrada fonte de energia.
A alma do homem 
nunca é triste.

O homem olha a tristeza do mundo
E sente a dor em si
ou por empatia, sofre pela dor do outro.
E, mesmo que feliz vivendo a sua existência
Fica  no "modo" triste.

Penso: 
o homem
que sempre foi triste,
não está vivo.
Murchou
 como uma flor
que nem nasceu.

A dor do mundo é grande. 
A dor do homem triste 
igualmente sofrida é.

E merece o homem. 
Ser mais alegre que ser triste
Porque precisa, todos dias,
Amanhecer com o sol.
Amanhecer fitando nos raios do sol
A mensagem de paz que sua alma
(já disse que ela mora lá,  lembram?)
Envia em todos os amanheceres.

Qual a chave de acesso ao código da fala da alma?

Um sorriso.
Um sorriso puro que brote do coração.

Complicadamente simples?
Simplesmente complicado?

Olhe uma flor que nasce no seu jardim.




Nasceu ali
Depois de um inverno de tristeza.
Primaverou feliz
sem nem saber
que era flor
Só para deixar o homem pleno de alegria.



Maria Izabel Viégas

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Nada


"A vida mais doce é não pensar em nada."
Friedrich Nietzsche
(nada pense sobre a imagem)

Não vejo nada
Nada, nem doce é.
Pensar em nada é impossível.
Se a vida é doce
Não pensando em nada,
Por que é doce
Se já pensou 
Em não pensar?
Hoje é meu dia de nada.
Vou  comer um doce de nada,
Pois que nada não engorda.

Com certeza, essa frase foi dita dentro de um contexto
Nietzsche nunca falaria só isso.
Só que hoje não pesquiso
Pois nada quero fazer.

Hoje estou nada de nada.
Nem de Nietzsche
Nem de pensar
Nem de doce ser pensar em nada.
Hoje eu não compareci. 
Nada fiz.
Você , meu amigo, fez. 
Bondoso, leu tudo isso
que é um nada!

Grata.
Beijos doces cheios de tudo!

Maria Izabel Viégas




domingo, 8 de outubro de 2017

Descobridora de insignificâncias



"Poderoso pra mim 
não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso 
é aquele que descobre
as insignificâncias 
(do mundo e as nossas)
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei." 

 - Manuel de Barros -

Foi assim 
Que, como Manoelito,
o poeta, fiquei corpo e alma
Feliz da vida!
Descobri, enfim:
Sou imbecil
Amo as insignificâncias
Aquelas das quais
O homem nem nota.
Nem cobiça.
Ouro e fortuna é que provocam ambição.
Ouvi de um trabalhador,
ontem, quando tentava
canalizar água numa construção.
E só encontrava terra dourada
e escavando, reclamava:
 - Bem que me aprazia ser ouro.

Como vivo a rebuscar
Tesouros guardados em
Pedras, musgos e novas flores
Tive a maior das venturas
Bem ali no meu jardim
Eis que ela surgiu
De um buraco negro?
Pode ser.
Tudo é possível. 
Nas minhas terras.
De uma formosura imensa
Uma pedra delicadamente bruta
Que reluzia de tanta simplicidade

(A simplicidade tem um fulgor
Que só os tais imbecis nasceram
Com poder mágico de descobrir!)

Ali no meio do nada
(O meio do nada revela mistérios) 
Ela, uma pedra preciosa
A pedra mais linda
que meus olhos já viram.
Vestida de musgo rendado
e  filetes alvos qual hieróglifos
Escritos por seres da floresta
Ou nem sei por quem.

Olhou- me,
bem nos olhos
Sorriu 
(pedra sorri só para os imbecis) 
E me revelou: 
- Sou toda sua.
Senta aqui ,
Preciso lhe contar
muitas histórias do mundo
E das significâncias
do Povo de Pedra.
Há séculos nós a esperávamos.

E foi assim
Ficamos horas a contar nossos segredos.
Sem que uma palavra sequer
Fosse ouvida pelos homens do ouro.
Só pelos imbecis.

Creio que as insignificâncias
e os imbecis adoradores da simplicidade,
Estes, ganharão o reino dos céus.

Bem,
foi mesmo assim.
Eu chorei.
E fui feliz
Os imbecis do poeta
Nascem com os pés num outro mundo.

Maria Izabel Viégas

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Mais jardins sobre a terra





"No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim.
E, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta
e o sem - fim,
a asa de uma borboleta."

Cecília Meireles


Um jardim, sim.
É necessário ter um jardim.
Vicejam aqui no mundo virtual.
Lindos na tela,
sem perfume
Aqui, do outro lado da tela,
Decepção, conto - os nos dedos.
Neles, nem lilases nem violetas.
Só arbustos.
Flores e folhas?
Absurdo!
Sujam muito o chão.

Plantei um pé de maracujá.
Cresceu lindo.
Espalhou.
Elevou - se.
Esparramou.
Encantou.
Encheu - se de flor.
Mas, que tristeza.
Por falta de borboletas
Assassinadas por agrotóxicos.
Não nasciam os frutos.

Sabem quem borboleteou,
Polinizando uma a uma?
Nós, uns seres humanos esquisitos
Que, teimosos, insistimos
em recordar que essa terra plana
Esse solo plano
Na verdade é redondo
E ainda um planeta
Repleto de mentes quadradas..

O nosso planeta
Que precisa de
flor,
jardim,
canteiro,
E de seres humanos
que, pelo menos,
no meio
de um dia inteiro,
seja "adorador de borboletas".
Tenha paciência com elas.
Se não for...
Equilíbrio não tem.
E, quem sabe,
Nem borboleta,
nem flor.
nem ser humano,
nem planeta.

Maria Izabel Viégas

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Homem, não destrua a Amazônia





"Se estamos destruindo a Amazônia, estamos destruindo a nós mesmos."  

Renato Gimenez de Oliveira




Para todo aquele
que como eu, 
ama a natureza,
do grão de areia ao infinito pó das estrelas!


Li, certa vez, a história de uma tradição indígena,
conto para vocês:

Quando os índios precisavam cortar uma árvore,
faziam uma celebração, um ritual.
Escolhiam uma, 'apenas uma'.
Todos dançavam em torno dessa determinada árvore.
E começavam com paus a bater no seu tronco.
E depois, rapidamente, corriam e se dirigiam à outra e a cortavam.
O porquê?
Pois que eles sabiam que a árvore que eles rodeavam
ficava assustada, aflita
tomada medo da morte que se anunciava.
A pobre árvore escolhida permanecia ali,
alerta e acordada,
num estado de crise, tensa, apavorada.
Enquanto as outras, no entorno, com o susto e medo,
desmaiavam, desfaleciam de tão tensas.
Logo, eles não feriam a que a alma sofria.
Eles cortavam uma que estivesse anestesiada,
não sofresse tanto.
E, aos pés da árvore abatida faziam um canto pedindo perdão!

Será que um dia, nós só abateremos apenas uma,
aquela que se faz necessária, 

pelos motivos de subsistência?
Que pena, 

triste evolução do ser humano,
lá no bem longe,
nós perdemos esse contato
com a alma do mundo!

Maria Izabel Viégas

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Todas as cartas de amor são  ridículas, poeta?




"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

(Álvaro de Campos,
in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa)


E eu, o que penso?
Pode ser
que as cartas de amor sejam ridículas
E ele afirma que já as escreveu
O que o caracteriza ter sido ridículo no passado.
Deve ter o poeta suas razões.
Desse tema , me abstenho
Eu nunca escrevi cartas de amor.
Nem adolescente
muito mesmo agora.
Desperdício,
Escrevi,
Escrevemos mil bilhetes de amor.
Recados deixados sobre a mesa
E sempre terminando:
Eu te amo.
És minha vida.
Tem mamadeira na geladeira.
Espero-te na tua volta
Depois do plantão da meia - note
Para saber do teu dia.
Não aguentei.
Exausta.
Nossos filhos me deram canseira.
Estarei dormindo.
Dá-me um beijo!
Senti saudades de ti.
E recebia também estes bilhetes
Rápidos
Mas cheios de amor!

Éramos ridículos, nunca!
Uníamos o prático de um jovem casal com dois filhos
Entremeados de declarações de carinho.

Não foram palavras nem sentimentos esdrúxulos.
Nem ficaram perdidos na memória.

Até hoje
Trocamos recados práticos:
 - Compra alface, brócolis,
e "meu"vinagre orgânico de maçã
E não esqueça do teu remédio!
Eu te amo!
Mas se não comprares algo gostoso
Nem precisas voltar, ouviste?

E encontro na mesa de cabeceira
-  Amor
Não é melhor comprar mais verduras?
Se eu encontrar algo diferente
Vou ligar, te acordar,  dorminhoca!
O sol já raiou há muito tempo!
Beijos, te amo!

Ora, poeta,
Ridículo
É escrever cartas longas
Cheias de juras de amor
A realidade está aí.
O amor é o mesmo ou maior!

Ridículo e esdrúxulo é não declarar
por toda a nossa vida
o quanto amamos alguém!

Mas não esqueça da minha bananada diet
Senão... é divórcio!

Maria Izabel Viégas

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A culpa da minha insônia



Sofro de uma doença gravíssima.
Trocar a noite pelo dia.
Dormir de dia
Prazer gostoso.
Dormir de noite
Heresia.
Não é insônia.
Isso tem nome:
Rebeldia?
Ou seriam memórias
De uma pequenina guria?
Que anjo me mandou
nascer de madrugada,
Pontualmente,
Uma hora e vinte,
Numa noite de lua cheia?

Minha mãe e meu pai
acordados.
Até um médico na ativa!
Percebi que o sol
Não se espalhava
Nos tais raios de luz.
Era um sol refrescante
Cheio de charme
Feminino
Descobri que o sol era a lua!

Ora, convenhamos
Qualquer recém nascida
Se confundiria.
No retorno
A essa vida
Aqui nesse planeta azulado,
Concluí que a noite
Era o 'meu' dia!

Assim explicado o fato
Narrado
E por todos
confirmado:
Cresci
Uma mulher de fases
Só acordo nas noites
De lua cheia.

Apesar do meu
Apaixonamento
Por todas
As luas novas
Fase em que
Nova semente
É fecundada
No conluio de amor
Entre o sol e a lua.
Deitam -se, às escuras,
Loucos de amor,
Saudosos e presentes,
Mas invisíveis aos olhos
Dos curiosos e descrentes.

Maria Izabel Viégas



quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Independência ou Morte - fato ou boato?

Comemora-se hoje, 7 de Setembro, o Dia da Independência do Brasil.


 


INDEPENDÊNCIA OU MORTE!


Reza a lenda que um homem 
que não era livre
Às margens 
de um riacho
que nem córrego era 
recebeu uma carta
de quem não tinha poder nenhum
pois que recebiam ordens de outros
E, num ímpeto de herói,
Fez ecoar no meio do vazio
com uma plateia reduzida
Um brado histórico:
Independência ou Morte!
Sendo ele o representante 
do poder 
Bem parecia 
que de independência
nem de liberdade sabia."
(Foi assim que me contaram) 

E foi assim que até hoje 
O povo que só sabia ser 
opressor ou escravo
Continua desconhecendo:
O que é Independência?
O que é ser livre?
E se, livre for, temeroso,
Volta para o cárcere
pois ser livre exige 
responsabilidade.

"A maioria das pessoas 
não quer realmente a liberdade,
pois liberdade envolve responsabilidade, 
e a maioria das pessoas tem medo da responsabilidade."
 Sigmund Freud 

Responsabilidade?
Num dia de feriado?
Deus nos socorra!
Preferem a praia
Ou permanecem
adormecidos
(ou desempregados)
pois só assim
sonham
com essa tal de independência.

Da tal morte?
Deus que nos livre! 




Eu confesso neste dia de glória:  
Tenho profunda admiração e respeito 
é por Tiradentes, meu ídolo!
O maior herói brasileiro
Esse soube o que era lutar 
pela independência
E recebeu como prêmio
a tal morte 
lá da lenda acima!


 Mas por amar-te tanto, minha terra sagrada, Brasil

Neste dia  em que assistimos a tantos desatinos nesta Terra Brasilis
Onde ainda nosso ouro continua sendo usurpado
pelo povo poderoso opressor
(em malas, caixotes ou em contas fantasmas)
eleito pelo povo(que perdeu a memória) -  o oprimido.




"Nunca se pode concordar
em rastejar,
quando se sente
ímpeto de voar." 

Hellen Keller 

 Maria Izabel Viégas

O Renasço Ocaso começou aqui: Quer ler? Vou gostar!

Sou por acaso o ocaso

Se sou ocaso Serei o fim Do sonho de estar  em vida? Ou serei Um sonho de transformar-me No sono daquilo que Se agiganta E me...