"Tens medo de fazer amor comigo?
- Tenho - respondeu ele.
- Por eu ser preta?
- Tu não és preta.
- Aqui, sou.
- Não, não é por seres preta que eu tenho medo.
- Tens medo que eu esteja doente...
- Sei prevenir-me.
- É porquê, então?
- Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti."
Mia Couto
Reverencio - te, Mia Couto:
"Tenho medo de não regressar de ti."
Causa, sim, medo
Essa entrega
Esse abrir o coração
ao outro.
O desvario arrebatador
Do encontro de corpos
E mergulhar no amor
Não no fazer sexo.
É maior.
É o sublime encanto
É o ir além
É redescobrir-se
no mais profundo
dessa dualidade
Que se tornou una.
Que se aprisionou.
Se abandonou
Desvanecido
Embriagado no mistério.
Resistir
Voltar atrás?
Como?
Ficou alma na alma.
E cada alma
Em cada um.
É a felicidade.
Já se perdeu de amor.
E se não for tudo verdadeiro,
Fica a mágoa,
a dor,
a saudade?
Onde se reencontrar
o alento
o abrigo
a volta à crença
De que esse amor existe?
Podes estar certo, amigo:
Todos temos medo
de não regressar.
Sufocar - se no outro.
Mas, por sermos assim
fracos, ou quiçá, tão fortes
Faremos tantas viagens
Quantas necessárias sejam.
Para o encontro do amor
maior que as desesperanças,
Tudo, infinitamente, vale a pena.
Maria Izabel Viégas
3 comentários:
Amei...amei...amei...viajei nas palavras, do Mia e nas suas... beijos,
Valéria
Gosto muito de te ler ... e fico sem palavras te responder.
Também gosto muito do Mia Couto, sabias?
Um abraço da Bombom.
Eu tenho esse medo. Acho que já passei dessa fase e tô tranquila assim. Talvez medo de tudo ser mentira... Mas nem tudo é mentira. E se acabar, acabou!
Mia Couto, que lindo!
Beijos!
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