quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Memórias de Cruz e Sousa na minha vida.


INEFÁVEL
"Nada há que me domine e que me vença
Quando a minh'alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial Sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
D'estrelas todo o céu em que erra e pensa.
Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outra mais serenas madrugadas!
Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim, porque eu as amo
Na minh'alma volteando arrebatadas!"

O poeta:  João da Cruz e Sousa

Os porquês desse Encontro :
Entre eu, a adolescente, o poeta Cruz e Souza, e o símbolo da Escola Normal Carmela Dutra, do Rio de Janeiro,
aqui nessas minhas Memórias.

Inefável é tudo aquilo que nos causa imenso prazer, indescritível  por sua força, natureza e beleza.


Morava uma parte da minha infância numa rua chamada Cruz e Sousa. 
Meu pai me contou que era poeta e que lutou a a favor da Abolição dos escravos. 
Como é delicioso ter um pai que era sabedor de todas as coisas do mundo!
Quando fiz prova para a Escola Normal, naquele tempo em que o Concurso era difícil , uma seleção rigorosa onde o saber, o grau de conhecimento era o fator principal para a aprovação.
Não eram os tais "democráticos" nem os "politicamente correto",  os conceitos de hoje em que essa seleção é feita por grau de pobreza, idade e cor da pele.
Passamos todos, naquela primeira turma em que rapazes foram aceitos, e misturados estavam ricos, pobres, caucasianos, orientais, negros, italianos, portugueses e outros. 
Ninguém nos perguntava de onde vínhamos
e, sim, se tínhamos capacidade de aprender
e o conhecimento necessários para ali estudar.
No ano em que fiz o concurso meu pai faleceu e a vida ficou bem difícil,
financeiramente e claro, emocionalmente para mim,
a filha amada e que o amava tanto.
E mesmo assim, passei na primeira seleção. 
Passaram , dentre duas mil vagas, somente nós, seiscentos candidatos. 
Tiveram que abrir outro concurso para preencher as vagas restantes. 
Fui, para orgulho de minha mãe, na "primeira leva".

Bem, e o que Cruz de Sousa tem a ver com meu assunto?

Na prova de admissão de português a redação era 
analisar um poema de Cruz e Sousa.
Fiquei tão emocionada, me vi amparada pelos anjos.
Senti que era um sinal dos céus.
E assim o foi, pois tirei uma nota bem alta.
Foi indescritível, de natureza bela 
e que renovou em força e coragem de seguir à frente.

Nunca me lembrei da poesia selecionada, 
mas sei que me entreguei com alma, 
sentia que algum anjo me protegeu.
E assim o foi.
E assim o foi por todo o tempo em que fui profissional feliz e realizada
na minha profissão.

Trouxe aqui "Inefável"
pois é exatamente assim que me sinto.

A poesia me quedou apaixonada!

Quando minha alma desperta.
Quando em êxtase entro todos os dias, 
aqui de volta ao mundo após o sono.
Volto do plano imaterial do inconsciente, 
do plano espiritual para este nosso, 
o da limitada matéria,
até hoje, 
com minha alma desperta!
Sei que no sono encontro os meus amados,
viajo livremente para onde quiser 
pois não estou presa
neste plano dito físico
pelo ar pesado desse mundo 
saturado por tantas desavenças e contradições.

Volto, desse colóquio,
com minha alma já desperta e...

"Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim,
 porque eu as amo
Na minh'alma volteando arrebatadas!"

E me encanto a cada dia com esse imensa dádiva da vida!

Maria Izabel Viégas


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