(meu belo boungaiville está morrendo)
Despedir-se de uma flor
É humanamente triste.
Hão de zombar do que sinto.
Ora, com tantas dores no mundo,
Pessoas em guerra.
Fome. Doenças.
Gente sem teto.
Aquecimento global.
Governantes espúrios e políticos corruptos!
E vem aqui a chorar por flores?
Tonta.
Desumana.
Despolitizada.
Louca.
Não argumento nada em minha defesa.
Apenas lamento.
Choro igualmente pelos que não compreendem
A dor de ver morrer um pé de flor!
Estes nunca ouviram o sussurrar das pétalas
A me consolar
Quando sozinha
Pelas dores do mundo
Eu sofria.
E sofro.
Nem acordaram com o cantar de um pássaro
Que ali construiu,
com extrema delicadeza
seu ninho.
Um ninho de louvor a vida neste planeta!
Não sorriu como eu
quando a brisa, que nos seus ramos rodopiavam
Saudando-me com um
Bom dia!
Nunca perceberam que foram minhas mãos
que a plantou e regou
Nem a viu vencer uma praga
Vendo-a reviver
Lutar
Reerguer-se
(como muitos humanos não sabem o como)
Na medida de um amor de flor
De cachos vermelhos
Que durante vinte e tantos anos
Encheram-me de alegria.
Fonte de elogios pela rubra beleza.
Envolveram meu ninho de amor,
Minha casa, meu lar
Protegendo-me dos estranhos com seus espinhos
Se assim o fosse necessário.
Uma cerca viva de verdejantes ramos e flores
Da cor do sangue que corre em minhas veias
E que fazem bater esse meu coração
Aqui dentro de meu peito.
Já perdi um ipê roxo elegante e sereno.
Agora estou me despedindo
De meu bougainville protetor,
Corajoso e majestosamente belo.
Sim.
Sou louca.
Louca de amor
por cada flor que tenho.
Louca de amor por aves
Apaixonada por meus cães pastores.
Sou um ser estranho.
Prefiro mais bicho e flores do que gente.
Que pena tenho de mim.
De ti, minha flor, terei saudade.
Sempre é doloroso
Dar adeus a quem ou a algo que amamos.
E que se vão mesmo contra vontade,
Pois é o término inevitável do ciclo de sua vida.
Maria Izabel Viégas
Nenhum comentário:
Postar um comentário