Sou seguidora de mim.
Aliás, sempre foi assim.
Voltei ao mundo
Descendo
Túnel escuro
Misterioso.
Místico.
Uma primeira fase uterina
Um oceano profundo
De onde vim
Para onde vou
Nada sou
Escuridão
Aos poucos um novo corpo surgindo
Coração pulsando.
Mente ainda sem nome
E cada vez mais
feto
E afeto
Feto
E medo
Ameaças
Enfim, a forma moldada
Outro túnel
Caminho à luz!
Nasci gente.
Respirei,
pela primeira vez,
Sozinha.
Mesmo dentro de um ventre
Há solidão
Ou brinca-se de nada sou.
Contando espero
Quando será
Estranho paradoxo.
nasci sozinha
Pelas mãos de um ser.
E suguei o néctar de outro
E fui abraçada com afeto por outro.
Desconhecidos.
Olhando nos olhos
Sabia quem eram.
reconheci-os.
Amigos e desafetos
Medo e afeto
Afeto supera o medo.
Sou parte de um grupo.
Não estou só.
Tempo que passa
Mudanças
Transformações
Tenho a companhia de muitos.
Tenho a companhia de muitos.
Sou todos e tudo.
Todos os seres do universo sou eu.
Vejo pelos olhos das águias,
Caminho ao lado da onça pintada,
Fico acordada,
olhos abertos da coruja.
Uivo unida ao meu bando de lobos.
Sou seixo das beiras do rio.
Ouço canto da Oxum.
E nas manhãs,
Viro sol.
Canto com os sabiás.
Viajo nas asas das andorinhas.
Acordo nas pétalas orvalhadas das flores.
Não.
Eu me contradigo.
Nunca fui só.
Mesmo sendo seguidora de mim.